quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Teatro de Mendigo

A fome,
             Cruza os olhos

marejados dos bares
do Recife.

A fome,
            come!

o resto na farinha,
da batata frita.

A fome revira o lixo
e a fotografia esquecida
Katalata, pro leite das criança

A fome,
             dança!
um balé invisível
entre os risos vazios

Os olhos da cidade
fecham os olhos de fome
ela não dorme, insone
A fome,
            sonha!

Um cão

Comi o veneno do cachorro
aquela carne vermelha
os pedaços de vidro
mileoitenta vezes
dormindo na rua
comendo essa hóstia
batizada pelo cão
sou a raiva
o incomodo
na paisagem burguesa

Malvadeza

-Iraci? 
-Iraci?
Foi assim que soprou
O velho pajé
O tempo
O ritmo da chuva
que secou no vento
Assú preto! pode avoar
Decretou o seu Luiz, o Gonzagão
Amara acedeu uma vela
Todos sentados na sombra de uma mangueira
Escutando uma saraivada guiada por Lampião
Miram
Um canto voador no infinito
Afinando os acordes de tua chegada.
Limpo e profundo
É a mesma voz de quando tudo começou...
Passando entre as frestas
Dos dentes de um menino
Que como eu
Observa a poeira na estrada
Vida e morte
dançando no sopro do Saci
Iraci! Iraci!
Pense n' eu vez em quando